É umha manhã fria quando empreendemos caminho ao Vale de Ourika, ao sudeste de Marrakech, um destino bastante popular especialmente entre a populacao local, que adoita visitar esta zona no verão onde a paisagem se mantem verde e frondosa e é possível desfrutar dum ar mais fresco que o da cidade.
O vale toma o seu nome do rio Ourika, que o atravessa baixando desde o Alto Atlas e chega até a que é a nossa próxima parada: Setti Fatma.

Setti Fatma é o último Douar (aldeia) acessível por estrada e é a localidade mais visitada do vale. É conhecida como a vila das 7 fervenças, daqui partem diversas rotas de excursão pelas montanhas e numha delas pode-se desfrutar do espectáculo destas sete cascatas.
A região esta habitada principalmente por povos Berberes, que ainda mantêm um estilo de vida bastante tradicional. A possibilidade de conhecer um pouco da sua cultura é outro dos atractivos desde lugar.

Mas tão interessante como Setti Fatma é o caminho, umha estrada estreita e revirada leva-nos entre pequenas aldeias onde vemos umha mistura de sociedade rural que tenta sobreviver com a ajuda do turismo. Campesinhos cuidando os seus animais olham para nós com facianas de curiosidade que rapidamente mudam num amplo sorriso como resposta ao nosso saúdo, grupos de meninhos de caminho a escola agasalham-nos com a sua ledícia e até beijos ao ar, tudo salpicado de amostras do artesanato berbere na beira da estrada e cartazes anunciando o famoso óleo de Argan, azeite bem conhecido pelas suas diversas propriedades.

Chegamos até o mesmo fim do asfalto e, como de costume em Marrocos, onde parece que não há ninguém, é parar e começar a chegar gente. O que mais se interessa em nós é Abdullah, um berbere que ganha a vida trabalhando como guia para turistas, e que será o nosso cicerone no dia de hoje. Esta é outra constante neste pais, detrás de cada guia agacha-se umha rede perfeitamente tecida para fazer negócio. O funcionamento é bem singelo, Abdullah tentará fazer-nos gastar o máximo possível nos negócios locais onde ele leva umha pequena comissão, além do que possa sacar de nós.

Rapidamente somos dirigidos a um parking onde guardar a moto e deixar as nossas cousas para fazer a nossa estadia mais cómoda, mentres vai-nos contando um pouco da sua vida na vila e explica-nos as maravilhosas cascatas que podemos visitar. Nesta altura estamos com fame e algo de frio, pelo que nos deixamos levar a um pequeno bar com vistas ao rio, onde vemos descansar um par de camelos, suponho que é um luxo para eles que só se podem permitir nesta época do ano, onde a afluência de visitantes diminui. Ao igual que os camelos, nós desfrutamos dum delicioso almorço a base de crepes com queijo e um café quentinho.

Já com o bandulho cheio tentamos negociar o preço da excursão mas é-nos impossível fixar um preço, explica-nos que depende do numero de fervenças que queiramos ver mas não nos quer dar umha cifra. Em Marrocos é muito recomendável concordar o preço exacto antes de qualquer tipo de transacção, evita desgostos e mal-entendidos mais tarde.

Para não botar todo o dia decidimos que com ver cinco das sete estamos conformes e saímos rumo à montanha. Hei de dizer que a excursão paga muito a pena, desfrutamos da montanha, das fervenças (Deli até se banhou numha delas), aprendemos um bocado da cultura Berbere graças ao nosso guia, fomos convidados a ver um obradoiro-loja de artesanato local nada mais sair, parada num bar-terraço pendurado da montanha e umha amostra de tapetes à volta… O preço a pagar é aturar a insistente pressão para que compres algo, a nós a escusa de viajarmos de moto liberou-nos um bocado do assédio. De qualquer jeito isto é algo que assumes ao ir a lugares turísticos de Marrocos.

Umha das cousas mais interessantes que aprendemos de Abdullah é que o sistema educativo público cobre quase todo o que precisam as crianças, o único gasto que tem de fazer ele é o uniforme dos seus filhos: umha bata branca que vestem por encima da sua roupa. Todo o material escolar e umha comida está pagado pelo Estado, as vezes esquecemos que para aprender é imprescindível estar bem alimentado.

E o inevitável chegou, hora de marchar e chegam as diferenças de opinião entre o que Abdullah considera que deve ganhar e o que nós estamos dispostos a pagar. Por isso digo que é muito importante fixar um preço de antemão, ele foi bem pago e nós sabemos que fosse qual fosse a cifra ele ia pedir mais, mas ainda assim marchamos com um gosto amargo.

 

Este post fai parte da serie Marrocos 2013: Umha viagem feita em Outubro de 2013 como primeiro viagem com A Capitana. Outros posts desta série são:

  1. Agora sim, partimos.
  2. Cruzando o Estreito.
  3. Primeira Cidade: Rabat.
  4. As sete fervenças.
  5. Ao Sol de Marrakech.