O mais veterano dos operários de aduanas fez um gesto ao seu companheiro como dizendo “deixa-me estes a mim”. Era um homem mal-encarado, do tipo de gente que sempre parece estar de mal humor. Nesta altura, quando já pensávamos que estava tudo feito, o medo à tortura burocrática voltou a nós. Mas era um medo in-justificado, é certo que nos marearam um bocado mas tudo foi um simples trâmite:

Revisa os passaportes, o selo de entrada, os papeis da moto.

– Green paper.
– Green paper? What paper?
– Green paper, for motorbike.
– I don’t have any green paper.

Indica-me que tenho que voltar ao posto de controle anterior e solicitar o papel verde. Passeio para abaixo, passaporte, papeis da moto, estende o famoso papel verde diante de mim, preencho-o.

– Do I need anything else? – pergunto.
– No, this is enough.

Passeio para arriba, papeis da moto, papel verde, rosma algo em árabe e mira outra vez o papel verde. Ao final parece conforme.
Já com toda a papelagem resolvida vamos cara a moto, onde nos aguarda outro polícia perfeitamente uniformado.

– Anything to declare?
– No, nothing.
– Nothing? Sure?… gun? – Pergunta com um sorriso na boca ao ver a minha cara de parvo.

E já está feito, subimos à Capitana e avançamos através do imenso porto de Tanger Med. Agora sim podemos dizer que estamos oficialmente em África e somos livres para percorrer Marrocos, enfiamos na autoestrada, próximo destino: Rabat.

O nosso percorrido vai pela A4 até a sua confluência com a A1, a autoestrada principal de Marrocos. São 280 quilômetros de bom -e caro- asfalto que nos deixam a sensação dum pais em rápido crescimento e com novas infra-estruturas. Por toda parte há guindastres, operários a trabalhar e sinalizações de novos passos elevados. Algo que faz muita falta, já que a gente deve cruzar pela autoestrada para chegar à outra beira.

Precisamos de combustível, para nós e para A Capitana, mas ainda não temos Dirham. Na primeira estação de serviço resolvemos os dous problemas dumha vez, não só pagamos a gasolina com cartão, mas oferecem-nos pagar um bocado mais e dar-nos a volta em metálico.

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A nossa primeira cidade

A entrada a Rabat é inesperada. Circulamos tranquilamente quando, sem saber mui bem de onde, aparece um exército de carros, uma ringleira de pequenas motocicletas a avançar entre os carros, burros, gente a pé… Primeiro desafio: guiar entre o tráfego dumha cidade marroquina.

Em Rabat não vás, levam-te. E fazê-lo doutro jeito é quase um suicídio, o melhor é deixares-te arrastar pela maré circulatória. Os indicadores de direcção não se utilizam, aqui conduze-se com a buzina. É simples. Para avisar de cambio de via: buzina; cambio de sentido: buzina; olho que vou adiantar: buzina; não passas tu que passo eu: buzina. Logo te habituas.

Esgotados e estressados fugimos do rebúmbio circulatório virando na primeira rua tranquila que alviscamos. Necessitamos um momento de respiro após tão intensos minutos. Tal deve ser o nosso aspecto que até uma mulher à que tentamos perguntar por um hotel barato nos oferece dinheiro.

Um paisano com uma pequena furgoneta oferece-se a indicar-nos o caminho até um hotel. Se já resulta complicado conduzir pelas ruas de Rabat normalmente, tenta perseguir e não perder de vista a outro veículo. E tudo mália que o bom homem faz todo o possível para aguardar por este torpe europeu. Encontramos alojamento no segundo intento, o primeiro hotel estava completo. A nossa moradia tem um amplo hall, com wifi, e até um porteiro elegantemente vestido que nos ajuda com as malas. Mas o quarto não é assim tão elegante, mas suponho que é bastante bom para o estândar marroquino.

Deixamos a Capitana no “parking” do hotel, o que vem sendo na rua ao lado da porta. Mais tarde descobriremos que este é o sistema de aparcamento mais estendido em Marrocos, por 10 ou 20 Dirham um vigiante com coleto refletor custodia o veículo durante dia e noite para que nada lhe aconteça.

Hotel Rabat

Caos circulatório aparte, Rabat é quiçais uma das melhores cidades para morar em Marrocos. Mália ser a segunda maior cidade do país, depois de Casablanca, e capital do Reino, Rabat é uma cidade tranquila e agradável. Tem um ambiente muito cosmopolita e é o mais parecido a uma cidade europeia que podes atopar por estas latitudes.

Rabat tem de todo. Nuns minutos passas de amplas ruas comerciais cheias de cafés ao labirinto da Medina. Uma medina grande mas abrangível, onde podes comprar qualquer cousa sem ser acossado pelos vendedores, ou desfrutar de uma refeição típica marroquina com os melhores preços da cidade. Saindo por uma das suas portas voltas à frescura e amplitude duma cidade que se abre ao mar e por outra às suas amplas avenidas e parques, onde descansar ou dar um passeio tranquilo. Sem esquecermos todo o seu património, como a torre de Hassan com o mausoléu real, a catedral católica de San Pedro de Roma ou a Kasbah dos Oudaias no precioso bairro de Uday, localizado onde o rio Bu-Regreg se junta ao Atlântico.

Terraza Steps Entrada al Mausoleo Mohammed V Faenando

A nossa intenção era ficar uma noite mas finalmente foram duas para poder conhecer um bocado mais a cidade e a sua vida, após o primeiro e abafante contacto descobrimos a cara amável de Rabat e a sua gente. É muito interessante ver como interactuam numa cultura diferente à nossa, especialmente a inocência das parelhas que lembram como devia ser na época dos nossos pais.

Más amor Cortejando
De la mano taxi en orden

Se tenho que escolher uma cidade para morar em Marrocos, sem dúvida  seria esta.