Nunca tanto medo passei na moto, em questão de minutos o céu cobriu-se e a chuiva e uma névoa espessa fazem a estrada desaparecer. Ademais vou ganhando altitude, o que não ajuda precisamente a melhorar a meteorologia.

Mália o desaprazível do tempo não deixo de ver jovens, maioritariamente subsarianos, à beira da estrada tentado vender distintos produtos para ganhar a vida. Não sou quem de entender quem vai parar no meio da tempestade para comprar-lhes algo e um arrepio percorre-me o corpo com a ideia de que algum deles tente cruzar a estrada com esta nula visibilidade. Poucos kilómetros mais adiante atopo um Mercedes parado de a cachapernas da mediana, não parece que haja feridos pelo que a situação é mais cómica que trágica com os ocupantes fora do carro a fitar cara ele tentando saber como chegaram até aí.

A névoa da uma trégua mas isso não significa que me poda relaxar. A minha obsessão por ir o mais pegado à costa faz-me chegar a estradas sem saída onde não há mais remédio que dar volta e desandar uns quantos kilómetros. Até três vezes tive que consultar o GPS para evitar andar a voltas entre as ruas de Fnideq, e é ao final duma destas ruas, uma com muita pendente, onde a roda traseira decide que não tem muita vontade de seguir agarrada ao asfalto e num segundo estou deitado no chão. Mais cedo que tarde a amabilidade marroquina vem ao resgate, um condutor de carro detém-se para me ajudar a erguer a mota e comprovar se estou bem. O homem fala perfeito espanhol, o que não e algo estranho nesta parte de Marrocos, esta cidade fica à beira de Ceuta -território ainda espanhol- e a própria Fnideq pertencia a Espanha até há uns 60 anos. Pouco tempo depois vem a segunda queda sobre um chão mistura de auga e óleo na saída duma gasolineira.

Esta parte da costa mediterrânea esta cheia de hotéis e resorts, e não lhe vejo especial interesse. Com apenas 50 Km percorridos considero que é hora de parar e buscar onde passar a noite, o tempo não tem traça de melhorar e não quero por-me em risco. Estou em M’diq, uma pequena cidade perto de Tetuão, fervedoiro de turistas durante o verão, não tanto assim nesta época do ano. M’diq era destino habitual dos Gibraltinos durante o feche da fronteira com Espanha (1969-1982) e em palavras de Tim Cullis -grande conhecedor de Marrocos- era um paraíso na terra anos atrás. Isso era antes de que o tijolo e o turismo de praia chega-se a estas latitudes, hoje é um história bem distinta.
Waiting in the rain

M'diq

Street

Breakfast